sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Triste 11 de setembro


Um comentário antes de postar uma crônica que li hoje e gostei muito:

- Primeiro, vai servir de homenagem ao Oliva, que é o único que ainda me escreve cobrando alguma atualização deste pobre blog tão abandonado... rs... Pq acho que se vc ainda não viu essa crônica, Oliva, vai curtir e, além disso, inevitavelmente, ela me lembrou vc e um professor de História muito bom que eu tive no SENAI que tb usava o termo "estadunidense";

- Segundo pq o escritor conseguiu expressar o que eu sinto com relação ao 11 de setembro, mas que se eu falar com as minhas palavras e com a minha delicadeza de elefante em loja de cristais, todo mundo vai dizer que eu sou insensível e anti-americanos.

Agora sim, vamos à crônica...

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Triste 11 de setembro

O dia em que o estádio onde o Brasil foi bicampeão do mundo virou campo de concentração

Por Mouzar Benedito

Desde 2002, o 11 de setembro virou data das vítimas do terrorismo, dos inocentes estadunidenses que morreram sem saber por quê, um ano antes. Compartilho a tristeza dos familiares e dos amigos das vítimas. Mas lembro com tristeza do 11 de setembro desde muito antes.

Só que os fatos que me levam a isso – ao contrário do acontecido em 2001 – tinham como vítimas não moradores dos Estados Unidos, e sim do Chile. E os terroristas, dessa vez, planejaram tudo em gabinetes governamentais de Washington.

Sim, o 11 de setembro de 1973 em Santiago do Chile – o golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet contra o governo democraticamente eleito do socialista Salvador Allende – teve como co-responsável o país que hoje se põe na condição de vítima do “terrorismo” e gasta bilhões de dólares com uma operação militar em defesa da “democracia”.

Antes de dar o tiro de misericórdia em Allende, os Estados Unidos, por intermédio da CIA, comandaram uma política de desestabilização de seu governo e da economia chilena. Chegaram a pagar caminhoneiros para não transportarem mercadorias, e muito mais do que eles ganhariam trabalhando. Por isso faltava até comida nas cidades. Depois partiram para o golpe final, comandado por Pinochet. Milhares morreram. Milhares desapareceram.

Numa área próxima a um bairro universitário, o Rio Mapocho, que corta a capital chilena, correu vermelho nesse dia. Muito sangue. O Estádio Nacional – no qual o Brasil conquistou sua segunda Copa do Mundo ao vencer a Checoslováquia por 3 a 1, há 45 anos – foi transformado em campo de concentração, prisão, centro de torturas.

O compositor Victor Jara, um dos mais populares do país, morreu ali. Seu corpo foi encontrado dias depois por sua mulher, crispado de balas e com as mãos decepadas para não mais tocar suas canções de amor e liberdade. Te recuerdo, Amanda...

Então, o papel de vítima dos Estados Unidos não me comove. E me comove menos ainda quando recordo outros atos que cometeram. Lembro-me, por exemplo, da história de um japonês que se tornou meu amigo.

Yoneda morou em Hiroxima, no Japão, até os 18 ou 19 anos, ainda durante a Segunda Guerra Mundial. Terminou o curso médio e foi a Tóquio, para tentar entrar numa faculdade. Saiu de Hiroxima em 5 de agosto de 1945. No dia seguinte, em Tóquio, soube que algo grave tinha ocorrido em sua cidade. Procurou descobrir o que estava acontecendo, tentou telefonar, não conseguia.

Resolveu voltar. A região estava toda cercada pelo exército, ninguém podia entrar. Ficou desesperado. Uma bomba atômica lançada pelos Estados Unidos destruíra toda a sua cidade. Não tinha mais amigos, não tinha mais família. Nada!

Em 1980 ele me mandou um depoimento, contando como foi, sua angústia, seu desespero. Publiquei no dia 6 de agosto daquele ano, na Gazeta de Pinheiros, o “Diário de Yoneda”. A última página inteira, falando da sua história, naquele aniversário da destruição de Hiroxima pelos estadunidenses.

Em 2001 eu o conheci pessoalmente. Yoneda veio ao Brasil, com setenta e tantos anos de idade, muito disposto e elétrico. Andava o dia inteiro. Numa noite, ficamos conversando com ele, o Kyoshi (seu filho) e a Mary Lou (sua nora), na casa da Lea e do Mário, nossos amigos comuns. Entre umas e outras, nos divertimos muito.

Claro, não falamos do 11 de setembro nem do 6 de agosto.

Um comentário:

Jonga Olivieri disse...

É realmente muito oportuna a comparação entre os 11 de setembro no Chile e em território ianque.
O banho de sangue que aquele país (EUA) sempre cometeu, a começar pelo extermínio de sua própria população indígena, até às bombas de Hiroshima e Nagazaki, isto eles não contam. Fazem como que esquece-las.
Mas, a verdade é que na América ao sul do Rio Grande (divisa do México), os estadunidenses jogam pesado há muito tempo.
Desde as primeiras invasões ao território Mexicano, ainda no século XIX, até as mais recentes, passando pelas do início do século XX, quando se instituiram as "Banana Republics", ou mesmo à criação do Panamá com o único intuito de construir o canal, estratégico para eles, têm sido todas marcadas pela violência e pelo preconceito.